Um dos assuntos mais polêmicos dos últimos meses tem sido a implantação das leis antifumo pelo país. Neste momento em que todos se preocupam com o tabaco, também é hora de pensar nos pets, companheiros próximos no dia-a-dia. Pois, assim como em humanos, o fumo passivo – 3ª maior causa de morte no mundo e origem da maior parte dos problemas respiratórios em crianças – compromete a saúde dos peludinhos.
“Já sabemos que existe uma relação entre tabagismo e problemas respiratórios de cães, como alergia e asma”, diz Denise Saretta Schwartz, professora da USP. Segundo a veterinária, o grupo que menos responde ao tratamento contra bronquite é o de cães que vivem numa casa em que uma ou mais pessoas fumam. “O maior risco da exposição à fumaça é o câncer de pulmão, mas ainda há poucos estudos conclusivos, mesmo no exterior.”
A médica diz que os donos de pets estão mais conscientes, mas que a maioria ainda não se tocou de que pode estar prejudicando a saúde de seu animal fumando perto dele. “Cachorros e gatos são tão fumantes passivos quanto qualquer bebê ou criança. É importante fazer esse alerta.”
Cães com câncer no pulmão têm, em média, apenas dois meses de expectativa de vida. Embora sua incidência seja baixa no mundo animal, o grande perigo está nas metástases. O segundo câncer canino mais comum no Brasil, depois dos linfomas, é o tumor de mama, que avança primeiro para o pulmão.
“O pulmão dos cães é mais afetado quando a doença se espalha do que por um tumor inicial. Animais com histórico de câncer têm 70% mais chance de desenvolver outros tumores”, diz o veterinário oncologista Rodrigo Ubukata. “Portanto, qualquer estímulo que desencadeie alterações celulares pode afetar o paciente oncológico”, diz o especialista, que chefia o setor de oncologia da clínica Provet, a qual executa por mês cerca de 150 sessões de quimioterapia em cachorros.
Nos Estados Unidos, há um movimento de transformar os cães em “sentinelas” de seres humanos, “porque estão expostos ao ambiente da mesma forma que seus proprietários”, explica Rodrigo. Adesivos “pet-friendly” circulam pelo país, alertando fumantes para não dar baforadas dentro de casa. Um deles, por exemplo, mostra um cão moribundo, sentado ao lado de um homem que fuma despreocupadamente no sofá, e pensando: “Eu deveria ter escolhido um dono não-fumante...”
A ordem dos veterinários, especialmente oncologistas, é que a pessoa fume em área externa, sem o animal no colo ou por perto – se ele tem ou já teve câncer, os cuidados para mantê-lo longe da nuvem de nicotina devem ser redobrados. “Não adianta fumar no quarto e trancar o bicho lá fora só na hora do cigarro, pois ele continuará inalando a fumaça, que permanece no ambiente”, diz Denise. “No fundo, esse é um ótimo motivo para parar de fumar: o cigarro pode afetar a saúde de um ser querido. Outro dia, uma cliente me contou que seu marido finalmente resolveu largar o cigarro porque ele percebeu que aquilo estava fazendo mal para a cachorrinha deles.”
Conclusão da história: a lei antifumo deve servir de inspiração para quem tem bichos em casa. O esforço de não fumar em locais onde os animais circulam traz como recompensa a saúde deles. Por fim, vale lembrar que não é só em nosso lar que podemos prejudicar os peludinhos ao dar algumas baforadas de tabaco: jogando bitucas no chão, além de poluir o ambiente, colocamos cães e gatos de rua em perigo. Eles podem se queimar e até comer os restos de filtros.